- Susana de Sousa
Graça e Amor, um conto de Natal
Ygrid e Elon acabaram de atar o feixe de juncos com o qual iriam bloquear o caminho aos irmãos.
- Estás cada vez mais lento, Elon! Eu teria feito isto num bater de asas de uma libelinha.
- É preciso atar com firmeza, Ygrid. Quinhentos feitiços lancei neste nó. Queres que eles consigam desatar num só sopro?
- Anda, deixa isso. Voemos depressa antes que eles descubram que estão presos!
Rindo e fazendo acrobacias no ar, os dois fugiram pela floresta. As árvores tinham-se despido para aguentar o frio do inverno, e a maior parte dos animais hibernava. O silêncio teria sido total, se não fossem as gargalhadas dos pequenos Ydrid e Elon.
- Olha, irmão, estamos a chegar ao fim da floresta. Ali é a terra dos homens.
- Voltemos para trás, então.
- Que se passa? Estás com medo?
- Medo? Eu, o grande Elon?
- Vamos só espreitar! Será que também celebram o solstício?
Na terra dos homens, as casas estavam enfeitadas com luzinhas coloridas e grandes coroas de azevinho. Das amplas janelas viam-se pinheiros decorados com as mais belas cores da Natureza. Lareiras acessas lançavam colunas de fumo em direção às estrelas, e por todo o lado se ouviam cânticos e gargalhadas.
- Oh, que bonito!
Uma das casas, contudo, estava tão despida e sem luz que se destacava das restantes. E foi essa que chamou a atenção de Elon, que puxou a irmã para a janela suja e sem cortinas. No interior, em redor de um lume quase extinto, uma mulher e um menino abraçavam-se, a tremer de frio.
- Temos de fazer alguma coisa!
- Hum... acho que precisamos de ajuda, Elon.
- Tens razão. Voltemos à floresta!
Num voo rápido, Ygrid e Elon chegaram a casa, desataram os nós dos juncos que bloqueavam a entrada, e chamaram os irmãos.
- Ufa... ainda bem que eles não descobriram a nossa armadilha.
- Irmãos, temos uma tarefa! Venham todos!
Quando regressaram à terra dos homens, Ygrid e Elon não vinham sozinhos. Traziam música, luz, calor e todo o poder do mundo mágico. Uma fada tocava flauta, convocando a harmonia de todo o grupo. Em todas as casas, portas abriram-se e as pessoas vieram para a rua, puxadas por mãos e vozes invisíveis. Traziam comida, lenha, azevinho e luzinhas coloridas.
A casa escura e sem calor abriu as suas portas e encheu-se de luz. Mãe e filho abraçaram os visitantes e receberam as oferendas.
- Pensei que se tinham esquecido de nós. – disse a mulher.
- E tínhamos... – respondeu um homem – ... mas de repente lembrámo-nos de ti e do teu filho.
- Quando nos esquecemos de vocês, há um pedaço do nosso coração que morre. – disse uma mulher, com lágrimas nos olhos.
A mulher e o filho encheram-se de Luz e, diante do olhar dos visitantes, desapareceram!!!

Dentro da casa iluminada, todos se abraçaram e cantaram, pois a mãe e o filho estavam dentro dos seus corações.
- Ygrid, vê como brilham!
- Sim, irmão. A Graça e o Amor brilham sempre no coração dos homens que não os esquecem.
Durante muito tempo, as fadas ficaram a observar os homens, mulheres e crianças que cantavam.
Ainda hoje, sempre que nos nossos corações convocamos Graça e Amor, as fadas aparecem para assistir, enlevadas no mais poderoso feitiço do reino dos homens.
Feliz Solstício, Feliz Natal!!!
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